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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Frio na fazenda


Chegou o inverno na fazenda.  Em noites geladas, os bichinhos dormem juntos para não sentir frio. Mamãe vaquinha aninha seus bezerros perto da barriga. A família inteira da galinha disputa o mesmo puleiro e os pintinhos correm para debaixo das asas do papai galo e da mamãe. Os bebês porquinhos enfiam seus fuços gelados debaixo do bucho da mamãe leitoa. Passarinhos dormem em bando em seus ninhos. A casa do João de Barro , nessa época, fica cheia! Os gansos enroscam seus pescoços para ficarem mais grudados, mas correm o risco de nunca mais desatarem o nó. Os cavalinhos, que dormem em pé, ficam encostados um no outro. Se um cair de tanto roncar, todo mundo vai pro chão.  E todos pensam, sorte da ovelha que tem seu próprio casaco de lã!

Nesse castelo não tem dodói


Sabe, faz um tempinho que estou hospedado em um castelo. Mamãe diz que é só por alguns dias, até eu melhorar. Estou dodói, e vim pra cá para ficar bom. Esse castelo é mágico. Aqui trabalham magos e fadas que produzem poções mágicas para as crianças sararem. Todo dia, o Doutor Mago vem me visitar. Ele sempre vem com um aparelho pendurado no pescoço. Acho engraçado o seu "escutador de coração". Fico pensando o que será que ele escuta através do seu escutador. "Tum, tum, tum ... é o meu coração falando para ele que, logo, eu vou sarar". Depois que ele sai, entra uma fada. É ela quem traz a poção mágica que o Doutor Mago mandou fazer. Essa fada tem varinha de condão, e é na varinha que está a poção que me fará ficar bom. Tem poções de todas as cores. Amarela, rosa ou vermelha; aqui, ela nao é amarga. Ao contrário, tem gostinho de chiclete. E basta um toque da varinha, uma picadinha que faz coceguinha, e a poção espalha amor com chiclete em mim. Mamãe fala que é esse amor que não vai mais me deixar dodói. E assim, é o meu dia mágico aqui, ao lado de magos e fadas, varinhas e poções. E então, o Doutor Mago entra com seu escutador de coração, e o meu coração fala para ele que eu melhorei, e que é hora de deixar o castelo. Com abraço agradecido, despeço dele e das fadas. E todo dia, antes de dormir, peço ao Papai do Céu, que cuide de todos os magos e fadas, e que as poções mágicas nunca faltem nesses castelos de amor.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

O corte do cabelo do leão

Durante anos Leôncio conviveu com aquela imensa juba dourada. Cabelos lisos, sedosos e brilhantes para inveja do amigo porco espinho que visitava o cabeleireiro semanalmente na tentativa de diminuir o topete espetado. Já ele, nunca havia pisado em um salão. Não precisava de tonalizante, era loiro por natureza. E nunca havia visto uma tesoura antes na sua frente, até o dia que assistiu a um jogo de futebol pela televisão e se deparou com um jogador de juba engraçada. “Estilo moicano, última moda no reino humano”, explicou a Gazela, vaidosa que só ela. Por dias ficou namorando sua juba pelo espelho. Estava cansado daquele cabelo comprido e das pontas quebradiças, e o topete daquele jogador não saía da sua cabeça. “Quando tem jogo de novo?”. Alguém aconselhou, “Não precisa esperar. Vá até o limite da floresta, e observe na cidade as crianças chegando para a escola”. E assim fez. De trás de uma árvore, ficou escondido vendo ‘meninos moicaninhos’, com mochilas recheadas de caneleiras e chuteiras, passarem para lá e para cá. “Não posso ficar fora dessa moda”. Marcou hora no salão do Macaco Biaggi, e por coincidência, no mesmo horário que Gina Girafa, colunista social do maior jornal do reino, fazia suas patas. Bastou um telefonema dela, para que os Sagüis Paparazzis chegassem e disputassem a pulos os melhores lugares para a foto do ano: “O cabelo moicano do Rei Leão”. Lá dentro, muitas tesouradas e era uma vez uma juba. O amigo Espinhoso acompanhou e se identificou com o corte. “Está parecido com um porco espinho ou eu é que estou parecido com um leão?” Avisou Macaco Biaggi que nunca mais alisaria os cabelos. Leôncio olhou para o espelho, para a juba no chão e aprovou o novo look. Sentiu-se mais leve, mais disposto e até atlético. Saiu do salão sob chuva de flashes, e na primeira entrevista pós-moicano, avisou que aguardava ansioso a convocação para a Seleção Felina de Futebol.

Onde mora a tartaruga?

- Passa lá em casa qualquer dia desses para tomar uma xícara de café.
Falou a tartaruga para o coelho no banho de sol no jardim.
- Quanta gentileza, passo sim, qual o endereço?
- Não tenho endereço fixo. Hoje é aqui, amanhã acolá.
O coelho coçou as orelhas e com uma das patas acarinhou a tartaruga.
- Coitadinha, não tem teto. Mora na rua?
- Tenho teto sim, e bem seguro por sinal. Nele não tem goteira e quentinho assim, eu nunca vi igual.
O coelho deu risada e metido a sabichão, achou que tinha matado a charada.
- Já sei. Então você é rica e está a caçoar de mim. Tem casa na praia, no campo, e em tudo que é jardim.
- Está enganado, meu amigo coelho. Minha casa é uma só. E faço um esforço danado para carregá-la, andando de sol a sol.
Não satisfeito, o coelho quis tirar a prova, e aceitou o café oferecido para a mesma hora.
- Então aceito hoje o seu convite para o café. Vamos para a sua casa, onde é?
- Está vendo aquela árvore? É bem debaixo dela que logo estarei morando. Daqui duas horas pule até lá. É o tempo que demoro para chegar andando.
Passou o tempo e lá estavam, e por muito pouco não brigaram.
- Nenhuma casa tem aqui. Vejo somente uma árvore. Você é tartaruga ou um sagüi?
- Sou tartaruga e tenho casa própria. Bata no meu casco, e eu te abro a porta.

Guardião de estrelas

Ficava por horas apoiado na janela do quarto antes de dormir. Não contava carneirinhos, contava estrelas. Uma a uma, com o dedo apontado, até onde a olho nu pudesse alcançar. Eram seis mil no total, mas contrariando a superstição, não tinha seis mil verrugas no dedo. Em noites nubladas, usava o telescópio, presente mais que aguardado que ganhara no Natal, e então a conta ultrapassava trinta mil os pontinhos brilhantes no céu. Não precisa dizer que existia um sonho de quando crescer virar astrônomo, e quando isso acontecesse descobriria enfim quantas estrelas, ao total, brilhavam no universo. Enquanto isso se auto-denominava “o guardião das estrelas” e só se deitava na cama quando tinha a certeza de que todas elas estavam lá, a postos no alto, vigiando seu sono. Em uma certa noite, uma surpresa. Contou três vezes, com e sem telescópio, e constatou que dez estrelas faltavam no seu pedaço de céu. Era uma noite de poucas nuvens. Estaria alguém roubando as estrelas? A mãe, na tentativa de tranquilizá-lo, disse que poderia ser um engano, um simples erro de conta, mas ele sabia que alguma coisa não brilhava bem – era um experiente contador de estrelas e não erraria por três vezes. Na noite seguinte, lá estava a postos, mais concentrado do que nunca, para dar início à contagem. E o saldo desastroso: vinte estrelas a menos. Decidiu passar a noite de guarda, para pegar no flagra o ladrão que invadira sua galáxia. Não pregou o olho um segundo, nenhum ladrão apareceu, mas na sua frente mais cinco estrelas desapareceram. Foi então que percebeu que muitas piscavam rápido, sem parar; outras mais lentamente. Estrelas morriam sob seus olhos e era preciso fazer alguma coisa. Pegou a escada mais alta, e com uma caixa de lâmpadas debaixo do braço, saiu para resolver o problema – um curto-circuito no seu céu-quintal.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Bolinhos confeitados dos alunos de Santa Rosa, RS

Bolinhos confeitados que os alunos da Escola Estadual de Educação Visconde de Cairu, Santa Rosa, Rio Grande do Sul, enviaram para a Casinha. "Joaninha sem bolinha" foi o conto escolhido.  Obrigada, Prof. Indiara Veçozzi por essa deliciosa surpresa.
















segunda-feira, 11 de julho de 2011

Dona Cegonha


Prazer, sou Dona Cegonha. Você já deve ter ouvido falar muito de mim. Não vai se lembrar, mas foi uma cegonha que levou você para a sua mamãe e seu papai. É isso mesmo, trabalho com entregas. É como o trabalho do carteiro, só que ele entrega cartas; eu entrego bebês. Trabalho dia e noite para atender a demanda, mas não trabalho sozinha. Assim como eu, são milhares as cegonhas fazendo entregas por esse mundo afora. São tantas cegonhas pra lá e pra cá no céu, que até semáforo e briga de trânsito tem por lá. "Bi bi, vamos logo, estou atrasada. Esse bebê era para ter sido entregue há pelos menos meia hora". "Anda logo sua cegonha lenta, meu bico está até envergando de tão grande que é esse bebê". "Sabe como eu faço para chegar na Maternidade Bebê Feliz?" E é assim o dia todo. Como as entregas têm hora marcada, eu já tomei várias multas por excesso de velocidade. Isso não é legal, mas não gosto de atrasar para não deixar papai e mamãe aflitos. Na fábrica, a produção não pára nunca. Bebês meninas para um lado. Bebês meninos para o outro. Na fralda de cada um deles tem o nome do papai e da mamãe, a data, a hora e o endereço de entrega. Tem vezes que dois ou três fazem parte de uma só encomenda, e então para essa tarefa são recrutadas as cegonhas mais fortes. Elas passam o dia na academia, malhando o bico, para aguentar o peso quando chamadas. Em casos mais raros, 'cegonhas carretas' são recrutadas para levar mais de três bebês de uma vez só. Eu já fui uma dessas cegonhas malhadas, entregadoras de gêmeos e até trigêmeos, mas hoje, já no auge da aposentadoria, estou abrindo o bico, e só faço entregas express. "Gugu Dada". Preciso voltar ao trabalho, tem um bebê me chamando. Eles ficam felizes quando me vêem chegar. É porque sabem que logo estarão quentinhos no colinho da mamãe. Mas o que nunca consegui entender é por que quando lá chegam abrem o berreiro. Desculpa aos papais, mas modéstia parte, talvez seja a saudade que sentirão de mim, e eu deles. Ossos do ofício. Bebê entregue, dever cumprido. Mas o que eu queria dizer é que tenho o melhor trabalho do mundo. Entrego bebês e faço sorrisos. É minha a responsabilidade de ser portadora da felicidade e do futuro da humanidade. Ah, meu salário? Cifrões de alegria.